A foto é estarrecedora: ela mostra ao menos sete caixas de papelão e oito malas abarrotadas com cédulas de R$ 50 e R$ 100. O dinheiro – certamente alguns milhões de reais – foi apreendido pela Polícia Federal num endereço atribuído a Geddel Vieira Lima, ex-ministro dos governos de Lula e Michel Temer e um dos mais importantes caciques da quadrilha conhecida como PMDB.

O ex-ministro tornou-se réu dias atrás quando a Justiça Federal de Brasília aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público onde Geddel é acusado de obstrução de justiça. Segundo o MP, o peemedebista “intimidava indiretamente o custodiado, na tentativa de impedir ou, ao menos, retardar a colaboração de Lucio Funaro com os órgãos investigativos Ministério Público e Polícia Federal”.

Acontece que a Polícia Federal, através de perícia, constatou que Geddel fez incontáveis telefonemas para a esposa de Funaro – um dos operadores do esquema criminoso liderado pela cúpula do PMDB – tentando assegurar que ele não revelaria seu envolvimento na corrupção que corria solta no Fundo de Investimentos do FGTS.

Funaro era o braço-direito de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e homem forte do PMDB carioca. Aliás, o mesmo PMDB de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro. Todos eles – Cunha, Cabral e Funaro – estão no xadrez. O ex-ministro, que caiu em prantos durante depoimento à 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, quando informado que permaneceria em prisão preventiva, estava solto desde julho. Aparentemente, Geddel aproveitou a liberdade para recuperar os milhões de reais espalhados pelo país, como atesta a foto que ganhou o mundo na última terça-feira.

O problema é que Geddel, assim como Cunha e Cabral, não é um político qualquer. Ele lidera o diretório do PMDB em um dos mais importantes estados do Brasil. Além disso, tornou-se peça-chave no esquema de governabilidade de Temer. Era, ao lado de Romero Jucá, Eliseu Padilha e Moreira Franco, um dos mais importantes ministros do governo golpista. Sua ligação com Temer é estreita e, por isso, a foto das malas abarrotadas de dinheiro causa preocupação ao Palácio do Planalto.

Ainda que as controvérsias envolvendo as novas gravações dos executivos da J&F tenham sido comemoradas pelos governistas, a eminente prisão de Geddel gera calafrios na cúpula palaciana. Seria o segundo político ligado a Temer pego com malas recheadas de dinheiro ilícito. E tudo isso às vésperas da Procuradoria-Geral da República encaminhar uma nova denúncia contra Michel Temer à Câmara dos Deputados.

Se é certo que os questionamentos em relação ao acordo de colaboração com os irmãos Batista favorecem Temer e seu governo, por outro lado, uma foto com milhões de reais em endereço atribuído a um de seus aliados mais próximos não o ajuda em nada. Por fim, cabe perguntar: por que Janot revelaria um “furo” no próprio casco dias antes de enviar nova denúncia contra Temer à Câmara dos Deputados?

Provavelmente, porque há algo nas novas gravações que pode comprometer definitivamente o presidente golpista, mesmo que revelando irregularidades nos acordos de colaboração. Assim, o Procurador-Geral da República se antecipou a eventuais questionamentos e protegeu a denúncia que será submetida à Câmara dos Deputados nos próximos dias.

Seja como for, não há imagem melhor para ilustrar a natureza dos aliados de Temer e de seu próprio governo: um governo que implementa um projeto de destruição de direitos, ataque à soberania nacional e corrupção desenfreada. Geddel e suas malas são a cara do governo Temer e do PMDB.