A crise política que se arrasta desde 2013 no Brasil alcançou seu ponto mais crítico na última semana. Acossado pelo cerco jurídico contra seus aliados de extrema-direita, Bolsonaro dobrou a aposta e pediu o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao Senado Federal. É a primeira vez que isso acontece em 132 anos de República.

Ao mesmo tempo, o presidente acena para o Centrão com a possibilidade de entregar mais quatro ministérios aos partidos da velha direita, segundo noticiou a imprensa. Tudo para enterrar de vez a possibilidade de um processo de impeachment contra si.

Não é pra menos. Diante dos resultados das últimas pesquisas de opinião não restam muitas opções ao presidente senão agarrar-se com unhas e dentes à tropa de choque de Arthur Lira, que tem impedido um processo contra ele na Câmara dos Deputados. Com a economia dando sinais de que não irá se recuperar tão cedo, e com a fome, a inflação e o desemprego assolando milhares de famílias, só resta a Bolsonaro ampliar as concessões ao Centrão.

Mas não é só. O presidente busca também retomar o protagonismo nas ruas, radicalizando ainda mais sua base de fanáticos. Para isso convoca mobilizações em defesa do governo e contra o STF para o próximo dia 7 de setembro com o objetivo de demonstrar força. Mas há um problema: é o mesmo dia para o qual a campanha Fora Bolsonaro está convocando mobilizações contra o presidente. E agora?

Em São Paulo, o governo estadual determinou que a Avenida Paulista, tradicional local de manifestações políticas, estará à disposição dos bolsonaristas. Os movimentos sociais e partidos de oposição que compõem a campanha Fora Bolsonaro discutirão o que fazer. Diante da informação de um crescente engajamento de policiais militares e até de caminhoneiros na convocação do ato golpista, setores da oposição começam a defender um recuo tático para evitar “confrontos” ou “aprofundar a polarização”. Uma posição embaraçosa.

Em meados de 2020, quando a extrema-direita estava confortável nas ruas enquanto a esquerda respeitava o isolamento social, uma parte dos movimentos sociais reagiu. Liderados por grupos de torcedores antifascistas, mobilizações foram convocadas em diferentes capitais. A oposição voltou a protagonizar atos de rua, mesmo com resistências internas. O resultado foi evidente: por seis meses, a extrema-direita escondeu-se debaixo da cama.

Desde maio deste ano, com o arrefecimento da segunda onda de contágio de Covid-19, a oposição retomou o protagonismo nas ruas. Em quatro datas diferentes – 29 de maio; 3 e 24 de junho; e 19 de julho – partidos e movimentos sociais demonstraram disposição de levar a luta pelo impeachment às últimas consequências, rejeitando a tática de “deixar sangrar” o governo Bolsonaro até as eleições de 2022. A convocação de novas manifestações para o dia 7 de setembro faz parte desse movimento mais amplo.

Como justificar então que, diante do pior momento do governo Bolsonaro – incapaz de enfrentar a crise econômica, visto como responsável pelo descontrole da pandemia, em queda nas pesquisas de opinião e cada vez mais dependente do Centrão – a oposição simplesmente recue e desmarque os protestos agendados para o dia 7?

As ameaças golpistas, já sabemos, não passam de bravatas. Recuar agora seria uma demonstração de fraqueza que daria ânimo aos adversários da democracia. Bastaria, a partir disso, difundir meio dúzia de fake news para espantar a oposição das ruas. Não é aceitável. Devemos dobrar a aposta. Voltar para as ruas no próximo dia 7 é dizer não ao golpismo, à intimidação, às tentativas de desestabilização. Recuar agora é demonstrar medo. E o medo não nos levará a lugar algum.

Dia 7 de setembro temos um novo encontro marcado com a história. E ela não perdoará os covardes.