No último dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro convocou seus apoiadores às ruas. Preparadas ao longo de meses, as manifestações bolsonaristas tinham como objetivo demonstrar força. Segundo dados da pesquisa Datafolha da última semana, a avaliação positiva de Bolsonaro atingiu seu pior nível desde o início do governo, com apenas 22% de aprovação.

Os atos, concentrados em Brasília e São Paulo – onde o presidente marcou presença – não chegaram nem perto do anunciado pela propaganda bolsonarista. No entanto, tampouco se pode dizer que foram inexpressivos. As mobilizações demonstraram que Bolsonaro segue sendo o nome mais forte da direita para as eleições de 2022 e a principal ameaça à democracia brasileira.

As semanas que antecederam o 7 de setembro foram de tensão. Parte da oposição, insuflada por uma irresponsável campanha midiática, embarcou na ameaça de golpe. Se falava de um levante das PM’s e das Forças Armadas para fechar o STF e decretar o Estado de Sítio. Embora apoiadores de Bolsonaro acreditassem nessa hipótese, nada aconteceu. Mesmo os bloqueios de caminhoneiros financiados por apoiadores do presidente duraram poucas horas e foram rapidamente desmobilizados pelo vexatório recuo de Bolsonaro.

Mesmo assim, a apreensão existente antes das mobilizações bolsonaristas estimularam um profícuo debate nas esquerdas. Parte delas, mantiveram as manifestações convocadas para o mesmo dia através do tradicional “Grito dos Excluídos”. Outra parte recuou, conclamando os opositores de Bolsonaro a ficarem em casa para evitar algum “confronto”.

Logo depois do dia 7 de setembro, nova polêmica: deveria a oposição de esquerda participar das manifestações convocadas por movimentos de direita como MBL e Vem Pra Rua? A discussão se alastrou rapidamente pelas redes. A centro-esquerda se somou aos atos. Movimentos e partidos mais à esquerda, como PSOL e PT optaram por defender a construção de atos unitários, mas não foram aos protestos do último dia 12 de setembro.

O resultado das mobilizações convocadas pelo MBL e Vem Pra Rua serviram para demonstrar que existem apenas dois setores com capacidade de mobilização hoje no Brasil: a esquerda e o bolsonarismo. A ideia de uma “terceira via” com peso de massas é uma quimera. Mesmo assim, o debate sobre o dia 12 precipitou uma importante discussão entre os opositores de Bolsonaro sobre a necessidade de construir novas mobilizações, mas de forma unificada.

Nesse espírito, nove partidos de oposição – PSOL, PT, PCdoB, PSB, PDT, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade – sentaram à mesa para construir novas mobilizações. Procuraram construir entendimentos com a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, formada por movimentos sociais e que tem sido responsável por promover atos contra o presidente desde o fim de maio. De todos, ouviu-se o mesmo: é hora de construir um espaço unificado de contestação ao presidente, no estilo “Diretas Já”.

No centro, o impeachment de Bolsonaro e a necessidade de preservar a democracia. Com a mão estendida pela oposição de esquerda e centro-esquerda, como reagirão os organizadores dos protestos do último dia 12? Reconhecerão a necessidade de unir forças para abreviar o sofrimento do povo brasileiro ou rechaçarão o chamado à unidade?

Os próximos dias serão decisivos, já que novas manifestações estão sendo convocadas no próximo dia 2 de outubro. A oposição pode dar um passo à frente, deixando diferenças estratégicas em segundo plano em nome de uma unidade tática. Terão essa capacidade? Saberemos em breve.