Juliano Medeiros afirma que prioridade para 2022 é criar união da esquerda e descarta alianças com centro-direita

Para o presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSol), Juliano Medeiros, a sigla vive seu melhor momento. A legenda, criada por dissidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), tem 16 anos de existência e hoje ocupa dez cadeiras na Câmara dos Deputados. Para o ano que vem, há duas prioridades: criar uma união de esquerda para combater Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições e ampliar o número de deputados federais eleitos.

Aos 36 anos, Medeiros aposta na mudança constante como força motriz da esquerda e do PSol. Em entrevista, ele lembra que os primeiros dez anos da sigla foram marcados pela posição de independência em relação aos governos Lula e Dilma Rousseff, mas que o impeachment da ex-presidente foi um divisor de águas.

“Há uma demanda por renovação não só de nomes, mas também das propostas, das agendas da esquerda. Acho que temos conseguido dar resposta a isso”, falou.

Ele também descartou alianças com legendas da centro-direita no âmbito eleitoral para enfrentar Bolsonaro. Para ele, siglas e setores sociais que têm identidade entre si devem se unir, mas “não é possível acreditar que vamos dar uma resposta adequada para superar a crise econômica, política e social que o país vive se aliando aos partidos que são corresponsáveis por esta crise”. Leia a entrevista abaixo:

O PSOL é um partido relativamente jovem, de menos de 20 anos, e de 2018 para cá vem tendo um desempenho cada vez mais expressivo nas eleições. É o melhor momento do partido hoje?
Sem dúvida. Nós tivemos os primeiros dez anos do PSol muito marcados pela nossa condição de ser um partido independente em relação aos governos do Lula e da Dilma, o que trouxe dificuldades eleitorais. Hoje, o nosso projeto possui condições de se desenvolver com mais tranquilidade, muito por conta desse cenário que se abriu a partir do golpe parlamentar contra a Dilma, que permitiu que nossas ideias tivessem mais ambiência na esquerda brasileira. Junto com isso, há uma demanda muito concreta de renovação, principalmente de lideranças de esquerda – e isso explica por que temos uma das bancadas mais jovens do Congresso Nacional, eu mesmo sou o presidente mais jovem de partido. Isso vai confirmando a tese de que há uma demanda por renovação não só de nomes, mas também das propostas, das agendas da esquerda. Eu acho que a temos conseguido dar resposta a isso.

Ainda há uma incógnita sobre a atuação do PSol em 2022, na disputa para o governo federal, se vai lançar candidatura própria ou apoiar outro candidato. Qual é a definição?
O que nós decidimos no nosso congresso é que a nossa prioridade é compor uma unidade de esquerda. Isso significa que sim, há a hipótese do PSol não apresentar um nome para a disputa presidencial do ano que vem e fazer parte de uma coalizão. Não sendo possível construir essa unidade, nós não descartamos ter candidatura própria.

Existe uma discussão, dentro de setores da esquerda, de que para derrotar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano quem é preciso se aliar com candidatos do centro e do centro-direita. O que o senhor pensa de alianças com o centro político para derrotar o Bolsonaro?
Para derrotar o governo Bolsonaro e sua agenda, nós acreditamos que é importante unir todas as forças que estejam dispostas a fazer este enfrentamento. Agora, no plano eleitoral, você deve unir partidos, setores sociais e políticos que têm identidade entre si. Não é possível acreditar que vamos dar uma resposta adequada para superar a crise econômica, política e social que o país vive se aliando aos partidos que são corresponsáveis por esta crise. Da parte do PSOL, defendemos que é necessário construir uma aliança das esquerdas e que as forças da velha direita ou da centro-direita devem construir seus projetos próprios, e o povo brasileiro vai fazer a sua escolha.

O PSol tem um diálogo crescente com o PT, mas existe diálogo com outros partidos de oposição e da centro-esquerda, como o PDT. Como é essa relação hoje?
Nós não temos uma relação prioritária com o partido A ou B. Buscamos boas relações com todos os partidos de oposição. Não estamos definindo nomes para a eleição presidencial neste momento, o nosso esforço está centrado, em primeiro lugar, em lutar pela unidade contra o governo Bolsonaro. Em segundo lugar, em construir um programa que responda a esta crise profunda que o país vive. E em terceiro lugar, também viabilizar os nossos interesses eleitorais de longo prazo, ampliar nossa bancada na Câmara Federal, eleger governadores e senadores.

O Guilherme Boulos hoje é o maior nome do PSol nacionalmente. Quais são os planos para ele em 2022?
O congresso do PSol de São Paulo definiu que o Guilherme é pré-candidato ao governo estadual. Assim como nós estamos trabalhando para definir uma unidade para o plano nacional, nós também vamos trabalhar em São Paulo para garantir uma junção dos partidos de esquerda para poder viabilizar em torno dele essa união.

O PSol tem aumentado a bancada no Congresso, mas você falou que é uma prioridade ter mais deputados federais. Quais são as expectativas para o ano que vem na Câmara e no Senado?

O partido definiu que a prioridade é a eleição de deputados federais, primeiro para a superação da cláusula de barreira, uma medida que tem como propósito asfixiar os partidos ideológicos, mais sérios. Além disso, também é importante que, no Congresso Nacional, você tenha uma bancada de base de deputados e deputadas comprometidos com a defesa dos direitos sociais, da mudança da política econômica, da defesa da soberania nacional, do serviço público, então por fatores não só eleitorais, mas políticos, é muito importante fortalecer a bancada na Câmara. Essa vai ser nossa prioridade. Claro, sem deixar de se preparar para a disputa das Assembleias Legislativas e do Senado Federal. Nós ampliamos a nossa bancada em 100% de 2014 para 2018, eu não sei se a gente consegue 100% novamente em 2022, mas vamos perseguir esse objetivo.