O governo Jair Bolsonaro representa uma das experiências mais macabras já desenvolvidas pelas elites no Brasil. Além de promover uma agenda de ataques sem precedentes aos direitos sociais, ao meio ambiente e à democracia, os extremistas que governam o país são diretamente responsáveis pela trágica crise sanitária que levou mais de 600 mil brasileiros e brasileiras à morte.

Seus resultados são tão desastrosos, que apenas uma minoria segue apoiando Bolsonaro. Apesar das tentativas de melhorar seus índices de aprovação com programas como o Auxílio Brasil, o governo tem rejeição recorde num ano eleitoral. Isso mostra que, apesar da criminosa blindagem imposta por Arthur Lira e os partidos do Centrão, Bolsonaro está com os dias contados.

Diante disso, teve início nas últimas semanas um importante debate sobre as medidas necessárias para superar a tragédia que foi Bolsonaro para a imensa maioria dos brasileiros e brasileiras. Os candidatos da direita, com destaque para Moro e Dória, apresentam as mesmas saídas de sempre – mais ajuste fiscal, mais ataques aos direitos, mais privatizações – se diferenciando muito pouco das propostas de Bolsonaro e Paulo Guedes.

Os candidatos da centro-esquerda apresentam saídas que buscam retomar o papel do Estado e desenhar estratégias para superar os anos de estagnação econômica que se iniciaram com o impeachment de Dilma Rousseff. Entre as propostas apresentadas está a revogação das “reformas” aprovadas pelo ilegítimo governo de Michel Temer e aprofundadas por Bolsonaro.

Entre essas reformas estão a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a lei das terceirizações, a mudança do regime de exploração do Pré-Sal do regime de partilha para o de concessão, a autonomia do Banco Central e o famigerado Teto de Gastos. Juntas, essas medidas foram responsáveis por jogar mais de 19 milhões de pessoas para condições subumanas, vivendo abaixo da linha da pobreza.

O debate, estimulado pela decisão do governo de coalizão das esquerdas na Espanha de desfazer parte da reforma trabalhista aprovada anos atrás, ocupou o noticiário na virada do ano. A sinalização de Lula e do PT de encamparem uma agenda de revogações de medidas antipopulares é positiva, uma vez que demonstra uma compreensão correta de que não há como superar a crise sem desfazer o legado do golpe de 2016.

Não demorou, no entanto, para que os “agentes do mercado” mostrassem preocupação com essa agenda. Até o candidato a pré-candidato a vice de Lula, o tucano Geraldo Alckmin, manifestou numa reunião com o presidente do Solidariedade seu desconforto com a proposta de revogação da reforma trabalhista. Sinal de que esse é o caminho.

O debate sobre as saídas para a crise está aberto. E isso é excelente. Reduzir as possibilidades de debate no interior das esquerdas a quem deve ser o vice de Lula ou quais as estratégias para seduzir parcelas da centro-direita seria uma limitação de horizontes inaceitável.

A campanha para derrotar Bolsonaro deve ser, acima de tudo, uma campanha de “repolitização” do povo brasileiro. E para isso, devemos dizer com franqueza e honestidade que o Brasil só pode sair da crise que enfrenta se poderosos interesses forem contrariados. É assim que iremos reconstruir o país.