Juliano Medeiros afirmou que nome de Geraldo Alckmin pode ser empecilho para apoio ao PT em nível nacional e que deve lançar candidatura própria em Minas

O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, afirmou que o nome do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin pode ser um empecilho para o apoio de seu partido ao ex-presidente Lula (PT) na eleição deste ano. Segundo o dirigente, Lula não pode “cometer o erro de ter como vice um novo (Michel) Temer. O (ex-governador Geraldo) Alckmin está muito mais para Temer do que para (José) Alencar”. Em visita a Belo Horizonte nesta quinta-feira (17), ele afirmou que a prioridade do partido nesta eleição é construir uma unidade no campo da esquerda e que a candidatura do ex-presidente Lula tem se mostrado a mais viável, mas deixou claro que não vai simplesmente aderir à campanha dele.

“O nome de Geraldo Alckmin como vice nós vemos como um problema. Ele defendeu nos últimos anos todas as políticas que afundaram o Brasil. Defendeu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, o teto de gastos, para não falar que foi a favor do impeachment contra Dilma Rousseff, que foi um processo político e sem provas”, disse em entrevista ao Café com Política, da rádio Super 91,7 FM.

“Será que o Geraldo Alckmin hoje se arrepende de ter apoiado a reforma trabalhista, será que se arrepende de ter apoiado o teto de gastos que congela os investimentos em saúde e educação? Isso é o tema. Não vi o Alckmin fazer nenhuma autocrítica sobre essas situações”, completou. Além do nome para vice, Medeiros disse que o programa de governo e o papel que a legenda terá na campanha são outros dois pontos de destaque nas conversas com o PT.

Questionado sobre nomes com o perfil que o PSOL defende como vice de Lula, ele citou “uma liderança ambientalista, de direitos humanos, vamos pegar como exemplo a Jurema Werneck, coordenadora da Anistia Internacional no Brasil, ou um sanitarista como Dráuzio Varella, ou um intelectual negro comprometido com a luta contra o racismo como Silvio Almeida”.

Candidatura de Ciro Gomes

Sobre uma possível aliança com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), ele evitou responder diretamente, mas afirmou que apesar do respeito e amizade que tem por ele, não deve apoiá-lo, uma vez que não vê Ciro como capaz de unir a esquerda. “Neste momento quem tem mostrado mais condições de montar uma frente de esquerda, com PSOL, Rede, PCdoB, PSB e PV é justamente o ex-presidente”, justificou.

Medeiros ainda frisou que a grande prioridade do partido neste ano é derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL), que classificou como a “experiência mais macabra no país desde a ditadura militar”. “O Brasil não aguenta mais quatro anos de um governo que destruiu políticas públicas, aprofundou a crise na economia. De um presidente que está alheio aos problemas do país”, afirmou.

O dirigente do PSOL citou tragédias como as causadas pelas chuvas em Minas, Bahia e Rio de Janeiro. “Temos um presidente que não dá a menor importância para isso. Ele estava passeando no sul do país, nas praias, enquanto o país se afogava. O Brasil não aguenta mais”, disse.

Eleição em Minas Gerais

Juliano Medeiros afirmou que o partido deve caminhar para ter um nome próprio na disputa pelo governo Minas, uma vez que vê como difícil a construção de uma aliança de esquerda no Estado.

“O quadro que companheiros relatam aqui é muito difícil, do Bolsonovismo, que ameaça os serviços públicos, as estatais – que são patrimônio do povo -, trata mal os servidores públicos. É uma experiência que conta com nossa mais firme oposição. Mas também não vemos a candidatura do Alexandre Kalil com grandes compromissos. O ideal seria que tivesse uma aliança em torno da esquerda, como está acontecendo no Rio em torno do Marcelo Freixo, e em São Paulo, em torno do Guilherme Boulos. Mas em Minas Gerais não sei se será possível. Eu sei que a maior parte dos partidos de esquerda já está negociando com o Kalil, e eu lamento essa posição porque tira da esquerda a possibilidade de ter uma voz própria, pelo menos no segundo turno. A tendência do PSOL é apresentar um nome para fazer esse debate”, explicou.

Federações partidárias

O presidente do PSOL confirmou conversas com a Rede Sustentabilidade para formar uma federação partidária, mas destacou que o instrumento ainda é novo.

“A federação é um elemento novo e há duvidas do que pode ser feito. Do ponto de vista político, há um esforço genuíno da Rede e do PSOL de viabilizar essa federação. Estamos debatendo programas, plataformas, o posicionamento dessa federação. Embora estejamos evitando polêmicas públicas, como tem acontecido entre PT e PSB, ainda temos muito que caminhar para chegar a uma decisão final”, finalizou, citando que há lideranças que defendem neutralidade em vez do apoio a Lula.