Deputados acionaram o Conselho de Ética contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) após ele debochar da tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão na ditadura militar. A representação será apresentada por parlamentares do PSOL, PCdoB e PT.

A bancada do PSOL na Câmara pedirá a cassação de Eduardo Bolsonaro, informou o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros. “Não é possível ficar inerte diante da agressão de Eduardo Bolsonaro à jornalista Míriam Leitão”.

Entenda o caso

Na tarde de ontem, Eduardo Bolsonaro respondeu a um post de Miriam, no qual a jornalista diz que Jair Bolsonaro é inimigo confesso da democracia, dizendo: “Ainda com pena da cobra”.

Míriam foi presa durante a ditadura militar e torturada com tapas, chutes e golpes que abriram sua cabeça. Além disso, teve de ficar nua em frente a 10 soldados e três agentes de repressão e passar horas trancada em uma sala com uma jiboia —a cobra citada por Eduardo Bolsonaro. Na época, a jornalista estava grávida de um mês e era militante do PCdoB.

Não foi a primeira vez que a família Bolsonaro exaltou abusos cometidos durante o período da ditadura militar (1964-1985). Quando deputado, Jair Bolsonaro (PL) fez elogios a Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, condenado em 2008 por tortura.

Em editorial, O Globo classificou como “repugnante” o ataque de Eduardo Bolsonaro. “A manifestação do deputado deve ser repudiada com toda a veemência”, afirmou, ressaltando que a postura do parlamentar foi “incompatível” com o cargo, “mas sobretudo com a decência e o respeito humanos”.

Nas redes sociais, repórteres do grupo Globo, como Guga Chacra, Natuza Nery, Gerson Camarotti e Giuliana Morrone, repudiaram o deboche de Eduardo Bolsonaro, e chamaram-no de “covarde”.

Para o colunista do UOL Josias de Souza, o ataque de Eduardo a Miriam “mistura ignorância com truculência”, e demonstra o fato de que o filho, assim como o pai, “carrega na personalidade uma mistura tóxica de ignorância pessoal com autoritarismo político”.

Na semana passada, quando a instauração do golpe militar completou 58 anos, o presidente Jair Bolsonaro exaltou as Forças Armadas, que diz ser “o último obstáculo para o socialismo no Brasil”.