Crescimento. Esse é o mote do PSOL para as eleições deste ano. Juliano Medeiros, presidente nacional da sigla, demonstrou, em conversa exclusiva com o BNews, otimismo no pleito.

Ele esteve em Salvador na última semana e participou de reuniões de articulações do PSOL baiano. A sigla conta com Kleber Rosa, pré-candidato ao governo, e Tâmara Azevedo, pré-candidata ao Senado Federal.

O PSOL, de acordo com Medeiros, avança para anunciar no fim de abril o apoio ao ex-presidente Lula (PT) na disputa nacional e não acredita que essa medida atrapalhe os planos da legenda no palanque estadual.

BNews: A sua visita a Salvador foi uma forma também de dar uma propulsão ao nome de Kleber e de Tâmara que estão como pré-candidatos ao Governo e ao Senado da Bahia?

JM: Com certeza. Esse é parte de um projeto que nós estamos desenvolvendo desde o início desse ano, chama PSOL pelo Brasil, que tem como propósito visitar todos os 27 estados do país pra que a gente possa não só fortalecer nossas chapas ao governo dos estados, ao senado, também a deputada federal e deputado estadual, mas iniciar discussões fundamentais sobre os problemas de cada estado, as saídas que o PSOL tá apontando, a incorporação destes temas também à nossa agenda nacional, né? A construção de um programa nacional não pode ser uma abstração que pense o país apenas do ponto de vista teórico, nós temos que ver o país de perto, viver de perto quais são as demandas, as necessidades do nosso povo. E tá aqui também tem esse propósito, além de fortalecer a campanha do Cleber e da Tâmara, também ouvir os nossos companheiros e ver quais são os temas importantes que o PSOL da Bahia considera que devem ser elevados também num nível nacional, que devem tá presentes na narrativa dos nossos dirigentes, no discurso das nossas lideranças em outros estados e mesmo na pré-campanha do ex-presidente Lula, que deve ser muito provavelmente o nosso candidato.

BNews: Aproveitando para já abordar esse assunto… O pessoal já bateu o martelo quanto ao apoio a Lula ou se não o que é que falta ainda pra poder ter essa unidade do campo de esquerda?

JM: O PSOL abriu um processo de negociações que envolve a incorporação de elementos programáticos que pra nós são indispensáveis pra essa unidade. Cito como exemplo aqui a revogação do teto de gastos que congelou por 20 os investimentos em saúde e educação, a necessidade de um programa de combate a crise climática, ao desmatamento, de garantia dos direitos dos povos indígenas. Cito também como fundamental a necessidade de uma reforma tributária pra dotar o estado brasileiro novamente de condições pra se financiar e ao se financiar, financiar as políticas públicas. Então tudo isso foi colocado na mesa no processo de diálogo com o PT. Ontem mesmo aconteceu uma reunião entre as fundações Perseu Abramo do PT e a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco do PSOL, onde nós apresentamos esse esses pontos, são 12 pontos que foram apresentados na reunião e houve uma sinalização positiva do PT pra incorporação. Então nós estamos encerrando esse processo de negociações e que vai ser homologado pela nossa conferência eleitoral que acontece no dia 30 de abril em São Paulo. Então dia 30 de abril o PSOL toma a sua definição, concluindo esse processo de negociações que se iniciou cerca de dois meses atrás.

BNews: É esse o mesmo prazo pra resolver a vida do PSOL de São Paulo? Seu nome foi posto como um possível nome pra compor uma chapa com Fernando Haddad.
JM: Essa definição vai passar pelo pessoal de São Paulo. Eu tô totalmente focado, concentrado, na definição dessas questões nacionais. Nós tivemos essa semana a votação do nosso diretório nacional que aprovou a federação com a Rede de Sustentabilidade. Estamos no meio de um processo de negociações com o PT, que é complexo no nível nacional. Então, as definições de São Paulo eu vou deixar pra que os nossos companheiros lá conduzam e obviamente vai levar em conta a realidade local, a possibilidade de uma unidade com Fernando Haddad, mas isso tudo tá em discussão pela direção de São Paulo.

BNews: Sobre a federação, como é que vocês tão vendo essa questão da cláusula de barreira? Vocês fizeram uma federação agora com a Rede. Acreditam que vão conseguir ter êxito, conseguir os índices necessários pra poder prosseguir com o partido?

JM: O PSOL tá num processo de ascensão eleitoral e político muito consistente nos últimos anos. Aliás, em 2021 foi o partido que mais cresceu no Brasil e um dos únicos dois partidos que teve mais filiações do que desfiliações. O outro foi o PR, partido da Igreja Universal. Então, nosso processo de crescimento é muito consistente. Agora, é claro que nós temos que olhar também em perspectiva, né? Eu não acho que o PSOL corra nenhum risco em relação a cláusula de barreira nas eleições deste ano. Mas isso pode representar um risco, por exemplo, em 2026, quando a cláusula de barreira vai ser de 3% dos votos válidos pra deputado federal, que é coisa. São 3 milhões de votos. Então, também pensando lá na frente, a gente achou que era importante antecipar o debate da federação. A Rede Sustentabilidade tem sido um partido que tem votado com o PSOL na Câmara Federal. 95% das matérias que foram apreciadas na Câmara, PSOL e Rede votaram juntos. O deputado Túlio Gadelha, de Pernambuco, a deputada Joenia Wapichana, única deputada indígena do Congresso Nacional, que são da Rede, são parceiros do PSOL, aliados do PSOL na luta contra o governo Bolsonaro. Então, nós não vimos nenhuma razão relevante pra que a federação não avançasse. Até porque os partidos mantém a sua identidade, mantém a sua autonomia. A federação não é uma fusão onde os partidos perdem a sua identidade. Os partidos mantém a sua identidade política e a sua autonomia, mas constroem uma espécie de aliança permanente, uma coligação permanente por quatro anos, que eu acho que é positivo pra democracia brasileira, que permite que a Rede possa ter os seus direitos de funcionamento plenamente assegurados e acho positivo também pro PSOL que incorpora de forma mais central ainda a agenda ambiental e ecológica que é fundamental hoje pra pensar o futuro do país.

BNews: Na Bahia é muito comum ter uma nacionalização das eleições. Um candidato a Presidência da República puxar o candidato ao Governo do Estado. No fato do PSOL fechar questão de apoiar o ex-presidente Lula, aqui tem um nome que é o nome de Jerônimo Rodrigues, que é o nome do PT. Você não acha que isso pode atrapalhar o desenvolvimento do pessoal na majoritária aqui na Bahia, o fato de não ter um candidato a Presidência da República?

JM: Não, de forma alguma. Eu acho que é fundamental pra que o PSOL possa colocar como uma alternativa de esquerda nas eleições desse ano, que o PSOL demarque claramente qual é a sua prioridade. E a sua prioridade é derrotar o Jair Bolsonaro. Não há outra forma melhor de derrotar o Jair Bolsonaro do que apoiar o ex-presidente Lula. Ele é o nome hoje que tem condições, não só de derrotar o Bolsonaro, como apresentar um programa que represente uma superação dessa agenda, que é uma agenda de retirada de direitos, uma agenda de privatizações, uma agenda de ataques à legislação ambiental. Então, desse ponto de vista eu tenho certeza que o eleitor na Bahia vai ter plena consciência da opção que o PSOL tá fazendo de derrotar o Jair Bolsonaro e vai, inclusive, reconhecer isso também no esforço do Kleber e da Tâmara que aqui nos representam na candidatura ao Governo e ao Senado, pra também darem o voto de confiança a eles, levando em conta também as contradições do projeto do PT na Bahia. É um projeto que não conseguiu resolver problemas crônicos do estado, como por exemplo o problema da segurança pública, né? A Bahia continua sendo um estado perigoso para os jovens negros e pras jovens negras. E acho que essas contradições, especialmente, no que diz respeito a política de alianças que o PT tem desenvolvido na Bahia, vão ficar ainda mais evidentes, o que fará com que o com que o eleitor que tem percepções, valores e posições de esquerda, deem o voto de confiança ao pessoal nessas eleições

BNews: O PSOL conseguiu ter uma base muito boa no Sudeste do país, na região Sul-Sudeste, e no Nordeste ele não desconta. Vocês já tentaram mapear e já descobriram porque ainda não conseguiram furar essa bolha, por exemplo de um PSB e de um PT, que são os partidos da esquerda muito fortes aqui, e o PCdoB, na Região Nordeste e que que vocês pensam pra o futuro?

JM: Naturalmente, em regiões onde os partidos da esquerda tradicional governam, como é o caso aqui da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, só pra dar esses exemplos, evidentemente onde essa esquerda governa, o processo de renovação da esquerda ele é mais lento e isso nós temos visto em outros estados também. Em lugares onde a esquerda mais tradicional não tem conseguido se viabilizar como alternativa, como é o caso do Rio de Janeiro, de São Paulo, mesmo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o PSOL tem conseguido crescer mais rápido. Então, eu acho que é um processo relativamente natural, né? Onde este ciclo da esquerda tradicional no governo tende a se esgotar e nesse processo de esgotamento vão surgir novos atores, novas atrizes, novas lideranças. Isso já começa a acontecer. Como é o caso em Pernambuco, onde o PSOL teve um desempenho extraordinário pra prefeitura na chapa com a Marília Arraes na última eleição contra o PSB. Agora no Ceará, onde a candidata do PSOL, Adelita Monteiro, já aparece com um bom desempenho eleitoral e acho que na Bahia também isso começa acontecer. Acho que essa eleição é uma eleição de virada de chave pra o PSOL da Bahia, onde além de manter o espaço que nós já temos na Assembleia Legislativa, nós podemos, pela primeira vez, eleger deputados e deputadas federais e ter um desempenho surpreendente tanto pra o Senado quanto pra o governo do Estado.