O líder do partido PSOL disse à Lusa que a coligação com o Partido dos Trabalhadores (PT), que apresenta Lula da Silva no sábado como candidato às eleições presidenciais brasileiras, foi inspirada “na
geringonça portuguesa”.
“Fizemos um processo de diálogos programáticos inspirados também na gerigonça portuguesa e no processo de composição da unidade do Governo espanhol”, afirmou à Lusa, Juliano Medeiros, presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Ao que tudo indica Lula deverá ir às eleições presidenciais de outubro pelo movimento Vamos Juntos pelo Brasil, uma aliança entre PT, PSOL, PSB (Partido Socialista Brasileiro), PC (Partido Comunista do Brasil) PV (Partido Verde), Solidariedade, e Rede Sustentabilidade.

No caso do PSOL, explicou o líder do partido, o apoio ao ex-presidente brasileiro foi uma decisão pragmática, mas também programática. “É a melhor oportunidade que nós temos de livrar o Brasil de Jair Bolsonaro”, afirmou, acrescentando que não tendo sido possível afastar o atual Presidente do Brasil através de processos de ‘impeachment’ não restou outra alternativa senão a saída pela via eleitoral”. “E pela via eleitoral a melhor opção que está colocada hoje para viabilizar a derrota do Bolsonaro e para trazer de volta a normalidade democrática para o Brasil é a candidatura de Lula”, frisou o responsável que em 2012 marcou presença no Congresso do Bloco de Esquerda, altura em que a desconfiança das esquerdas mais à esquerda do Partido Socialista português relativamente a uma coligação era a tónica predominante.

Num artigo de opinião na sua página oficial, intitulado “As lições políticas da eleição em Portugal”, Juliano Medeiros analisa, , entre outras, a importância da ‘geringonça’ em 2015 para derrubar a aliança de direita em Portugal, mas também a sua queda, em 2019, e a importância que o eleitorado português deu à estabilidade de uma esquerda moderada (no caso da sua análise, o PS) nas eleições legislativas portuguesas em 2022.

“Não deve ser descartada, ainda, a hipótese de que o aumento da radicalização política promovida nos últimos anos pelas forças de extrema direita como Chega e Iniciativa Liberal tenha gerado uma maior coesão dos eleitores progressistas junto ao Partido Socialista, desidratando forças menores consideradas incapazes de barrar a ofensiva dos extremistas”, descreveu assim Juliano Medeiros.

Olhando para o Brasil, e fazendo uma comparação, o líder do PSOL acrescenta ainda que “parece inegável, no entanto, que os partidos de esquerda subestimaram o poder de atração do velho PS num momento de tantas incertezas (…) que a esquerda do Brasil não cometa o mesmo erro”, concluiu.

Agora, à Lusa, Juliano Medeiros considera que o apoio do seu partido ao PT e a Lula da Silva “não se trata apenas de um apoio como objetivo de derrotar Bolsonaro, mas também de oferecer ao país uma agenda de enfrentamento à crise económica e social que nós temos vivido”. Portanto: “Uma aliança programática entre a esquerda radical e o
centro-esquerda com propósito de também ajudar o país a superar a crise”, através de várias políticas discutidas entre os dois partidos que deverão ser incorporadas no programa de Lula assim que a candidatura
for formalizada.

“Chegamos a um entendimento em torno de 12 pontos, 12 prioridades”, sublinhou. Juliano Medeiros recordou ainda que noutras eleições os dois partidos chegaram a ser adversários. Contudo, “a gravidade de hoje, com um Governo de extrema-direita não nos permite margem para riscos, portanto a vitória do Lula tem de ser uma vitória maiúscula, capaz de não ser passiva de questionamentos e assim garantir a transição para um Governo plenamente democrático”, detalhou.