A trágica combinação entre o fim da principal política de proteção aos mais pobres durante a pandemia – o Auxílio Emergencial – e a incapacidade do governo Bolsonaro de colocar de pé um plano nacional de imunização cobraram seu preço mais cedo do que se imaginava.
A pesquisa IDEIA divulgada no dia 22 de janeiro pela revista Exame mostra uma acelerada perda de apoio por parte do governo Bolsonaro em todos os extratos sociais e todas as regiões do país.
O caos instalado no Amazonas nas últimas semanas e as cenas estarrecedoras de pessoas morrendo sufocadas por falta de oxigênio nos hospitais de Manaus também impactaram a percepção dos entrevistados, segundo dados do levantamento.
De acordo com a pesquisa, a aprovação ao governo Bolsonaro despencou: há uma semana da última pesquisa o percentual de brasileiros e brasileiras que consideravam o governo bom ou ótimo era de 37%; na semana da pesquisa são apenas 26%. A desaprovação do governo chegou a 45% contra 34% no levantamento anterior. O pior índice foi alcançado em junho do ano passado, quando 50% dos entrevistados consideraram o governo ruim ou péssimo.
De acordo com Maurício Moura, fundador do IDEIA, “essa queda ocorreu essencialmente entre os segmentos jovens de 18 a 24 anos; nas regiões Norte e Nordeste; e em todas as faixas de renda”. Ou seja, é uma queda que antecipa uma tendência – já que ocorre especialmente entre os jovens – e que tem mais força nas regiões Norte e Nordeste, onde se concentra a maior parte dos beneficiários do Auxílio Emergencial.
O desgaste provocado pelo fim do Auxílio Emergencial, porém, ainda deve aumentar, já que na última semana ainda estavam sendo pagas as parcelas remanescentes do benefício. É possível prever que a partir dos próximos levantamentos vejamos uma queda ainda mais acentuada na aprovação do governo, já que o Auxílio Emergencial não estará mais disponível, num quadro de possível recrudescimento da pandemia e aumento exponencial do número de contaminados.
Outro aspecto que seguramente impactou negativamente a imagem de Bolsonaro entre os entrevistados foi a decisão da Anvisa de permitir o uso emergencial das vacinas AstraZeneca e Coronovac e a derrota de sua tática de defesa do chamado “tratamento precoce” através de medicamentos com ineficácia comprovada contra a Covid-19. O início da vacinação em São Paulo gerou enorme expectativa de que a imunização possa ser uma porta de saída para a crise que o Brasil vive.
Segundo a pesquisa Exame/IDEIA, apenas 3% consideram que o mérito principal pela aprovação das vacinas é de Jair Bolsonaro, enquanto outros 5% atribuem esse mérito ao Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. A maioria o atribuí à comunidade científica (32%) ou aos órgãos de pesquisa – Instituto Butantã e Fundação Oswaldo Cruz – 24%. Apesar de toda a propaganda, apenas 8% consideram que o mérito pelas vacinas seja do governador de São Paulo, João Dória.
Sabemos que pesquisas são sempre fotografias de um momento específico. Mas a rapidez com que a aprovação de Bolsonaro derrete nos faz antever uma tendência de maiores dificuldades para o presidente. Se os prognósticos dos especialistas estiverem certos, podemos entrar fevereiro com o sistema de saúde colapsado pela segunda onda da pandemia, sem auxílio emergencial e com a vacinação num estágio ainda inicial.
Nesse cenário, de aprofundamento da crise sanitária e social, o Brasil se tornará um barril de pólvora. E talvez não reste outra saída às elites – que interditaram até aqui a queda do presidente – senão a abertura do processo de impeachment. O caldo social para essa alternativa está se formando. Só não vê, quem não quer.